Lori Figueiró vive a inquietude daqueles que sentem urgência. E suas urgências são transformadas em imagens e palavras extraídas da complexidade que há naquilo que, ao mesmo tempo, é simples: relações de respeito e afeto que ele cria, o olhar atento e cuidadoso, o retorno carinhoso que ele honra para com aqueles que compartilham suas vivências e o valor que deposita nas maravilhas que estão espalhadas em lugares, nos ofícios, na arte e na memória de um povo que resiste, alimenta e sustenta a identidade do Vale do Jequitinhonha.
A união destes elementos constrói o universo em que vive Lori. Elementos estes que também o inquietam, afinal, compartilham as mesmas urgências. Esta comunhão é a ferramenta que possibilita transformar tais urgências em algo contemplável, tangível, belo e poético, tudo que compõe, também, a quinta publicação de Lori Figueiró: o livro “Acender do barro”, trabalho em que Lori nos presenteia com a essência de Valdete Gomes Fernandes Silva.
Mas, afinal, quem é Valdete?
Bom, poderíamos dizer que Valdete é filha, irmã, mãe, avó e esposa. Que Valdete trabalha, cuida da casa, das flores e da horta. Mas esta é uma definição que permeia o imaginário popular como sendo a completude feminina. Falácia! Há um outro lugar que precisa ser alcançado – com urgência –, pois esta terra infértil do senso comum não floresce Valdetes.
Valdete é como outras mulheres. Mas, como todas elas, Valdete não é qualquer mulher.
Valdete possui uma delicadeza bruta. Valdete consegue exalar força em sua mansidão. Valdete transborda uma poesia tímida que da luz a um mundo de sabedoria, sensibilidade, generosidade e afetuosidade que, por acaso ou sina, fez com que ela encontrasse na cerâmica sua arte, seu púlpito, seu sustento, seu descanso e seu acalanto. Valdete é mulher do Vale. Valdete são todas as mulheres do Vale: um lugar fértil que germina, brota, floresce e transforma.
Valdete é a urgência revelada por Lori Figueiró no jogo poético de luzes, cores e palavras, que dão vida ao “Acender do barro”.
Ana Clara Silva, Janeiro de 2019
Valdete Gomes Fernandes Silva, Cachoeira do Fanado, Minas Novas, janeiro de 2018
Valdete Gomes Fernandes Silva, Cachoeira do Fanado, Minas Novas, janeiro de 2018