Intão é outra coisa
Não é fácil, né, fazer fotografia.
Não é simplesmente bater o dedo no botão, não.
E também não é fácil pra a pessoa qui tá sendo fotografada
pra ela passar aquela sensação di estar gostando...
Tem qui ter essa sensibilidade entre o fotógrafo e a pessoa qui istá sendo fotografada.
Essa tensão qui a gente fica... Um trabalho qui vai passar pras pessoas...
essa sensação di gostar...
Intão, num é simples ser um bom fotógrafo e passar toda essa sensação.
Eu vejo qui é um trabalhão, um trabalhão qui é muito bunito!
E Nossa Senhora, Lori, esses retratos dos Tamborzeiros,
eu tôu gostando muito!
Qui força, né?
Eu acho forte esses momentos, expressivos!
É como passando um filme, eu fico imaginando num telão...
Os retratos são todos muito bunitos!
Qui expressividades!
E o Salve Maria, amei o Salve Maria!
A saudação di todo mundo.
Eu fico emocionada cum essas coisas!
É bunito di vê, tem vida!
Nossa Senhora, eu acho muito interessante tudo isso, Lori!
Num é toda pessoa qui tem essa sensibilidade
di enxergar esses momentos.
Sem querer, comé qui fala?
Sendo sincera, né,
ocê sabe qu'eu gosto di fotografia,
qu'eu sempre gostei di fotografia,
e dispois a gente vem vendo
qui é uma coisa qui não foi feita assim...
Ocê presenciou as festividades, os ensaios, tudo.
Cunversou cum eles, viu a opinião deles,
intão é outra coisa.
Eles vão ficar felizes, vão se sentir homenageados!
Eu já tôu aqui vendo!
Maria Lira Marques Borges
Entre
Entre a luz e a sombra: grafias em cores. Entre música e dança: tambores. Objetos sagrados que evocam memórias, convidam às reuniões e anunciam acontecimentos. Entre fotografias e tambores os predicados dos espectadores traduzindo sentidos do bem viver.
“A beleza da vida está na diversidade”, assim, Lori Figueiró, repete de quando em vez ao andejar pelo Jequitinhonha cismando nuances das cores refletidas desse mundo, sua gente, seus objetos e seus mistérios. O trabalho desse memorialista do Vale é sempre mais que um registro, manifesta-se como luz refletida dessa gente e seu(s) lugare(s), sim, no plural.
A recordação imaginativa dos homens, mulheres e crianças, cantores e brincantes da Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, os chamados “Tamborzeiros do Rosário”, revela e amplia a realidade ancestral e seus lugare(s) construídos e determinados no coletivo.
Entre as luzes refletidas no trabalho de Lori Figueiró e a recordação imaginativa dos Tamborzeiros do Rosário de Araçuaí, possuir as imagens e ser possuídas por elas é provocar em nós a textura e a essência das coisas, é crer que há beleza em tudo.
Entre o acanhado noturno das botinas cor de laranja de Lori Figueiró e o afã diurno de seu poetar imagens, a junção de todas as cores do arco-íris: o branco, o alvo refletindo todos os raios luminosos expressando com clareza a leveza existente Entre os sabores e dissabores da vida contemporânea.
Sandrinha Barbosa Nogueira
Tambores
"Nossa Senhora do Rosário
sua casa cheira,
cheira a cravos e rosas, ai ai ai,
fulô da laranjeira."
(Domínio Público)
São tambores os homens
são tambores
São tambores as mulheres
os meninos e as meninas
são tambores
são tambores
São os filhos da Mãe do Rosário
"cantando dentro dos tambores"
"chorou, chorou eu"
são tambores.
Salve Maria!
Salve a luzidia cor negra
dos homens pretos
das mulheres pretas
e dos seus filhos pretos
revestindo de glórias
os céus do rosário
de Nagô, Sá Rufina,
Dona Filó, Zé de Méia,
salve!
Salve Maria Lira Marques Borges e Blandina Silva Souza!
Salve Felipe Pereira dos Santos e João Evangelista da Silva!
Eles, os irmãos negros do rosário
dançam danças
belas
esbraseantes
o suor amadurecendo
sonhos libertários
de serem
e de sermos
carnaduras de palavras
e caminhos de nascença.
Salve!
- Tudo começa muito antes de enunciar
o que há de eterno,
ressonâncias do sagrado
caldeando ancestralidades -
Salve Sá Luíza
e a poética corda do coração
invisivelmente fina
enleando a todos
com rastros de dignidade
e partilhas instintivas de bem querer,
salve!
Salve o Sagrado Rosário
dos filhos
de Nossa Senhora do Rosário!
Salve, salve!
Lori Figueiró