Fotografias de Interiores

Vendo alguns livros de fotografias publicados por Lori Figueiró (12 ao todo), me veio a pergunta:

Será que Lori tem ideia da dimensão do trabalho dele como fotógrafo e documentarista?

Nas andanças pelo Vale, ele sempre de uma forma delicada, respeitosa e cuidadosa, registra, como ele mesmo brinca, o fim de uma Era. Que a meu ver, lamentavelmente tão logo chegará. O registro de um Vale que vai se perdendo no Tempo, no espaço e até em nosso coração. Um Vale que não mais existirá. Não mais resistirá…

São saberes, ofícios, costumes, tradições, mas principalmente, PESSOAS, gente de verdade, com cheiro de suor e de terra, que pelas fotografias dele, serão para nós e aos que virão, Memórias. Apenas Memórias? Será que nos reconheceremos? Será que nos reconhecerão?

O olhar de Lori captura o SER HUMANO. Mais que paisagens, lugares, amanheceres ou entardeceres.

Um trabalho que valoriza uma gente simples, possuidora de uma beleza que nem todo mundo vê, que nem todo mundo percebe, mas que nos faz únicos. E falo sem bairrismo.

É Dona Gêra, Dona Rita, Dona Sena, Seu Marquinhos, Tia Antônia, Seu Bernardino em Jenipapo de Minas; Lira Marques, Dona Baranda, Dona Generina, Seu João Tamborzeiro, Maria Cheirosa e Zefa em Araçuaí; Dona Helena e Dona Ilídia em São Gonçalo do Rio das Pedras; Dona Anninha lá em Badaró; Natalina em Berilo; Dona Valdete e os Tamborzeiros do Rosário em Minas Novas; também os Tamborzeiros do Rosário de Araçuaí.

Tanta gente, tantas histórias.

Gente sincera, dignificadas e honradas pelo trabalho e com nome e endereço. Gente que olha no olho e faz transcender a alma.

Olha a importância, a riqueza e o valor inestimável desse trabalho!

O acervo que ao longo de anos, Lori vem ajuntando, quase que sem apoio algum, é o retrato de uma região que apesar das adversidades, das mazelas e da má vontade política, resiste, insiste, mas agoniza. Sim, agonizamos. Ainda mais, nesses tempos sombrios.

É um material vastíssimo que precisa, merece e deve ser preservado e disponibilizado, de alguma forma, porque é voltado para as pessoas.

É o nosso povo, a nossa gente ali registrada, e felizmente, eternizada por sua fotografia de interiores, sensível e ímpar.

Diêgo Alves, 10 de setembro de 2020

João Evangelista da Silva, Araçuaí, agosto de 2020