Afeto
Molda com sabugo de milho que penteia
o projeto de corpo da boneca em construção
"Somos todos feitos do barro molhado"
A artesã brinca de ser Deus
acerca da crença nos princípios da criação
- Barro, capa protetora da nossa alma pura-mente sutil -
Modela a cintura, sobe pros seios
Tudo a dedo, delicado.
Quem não tem nas mãos o cuidado amado
não faz o que Valdete cria.
É questão de beleza transferida
De interação
do que tem dentro para o que está fora
Da vida com o que ainda não tem vida.
Pura alquimia.
As mulheres do Vale estão cansadas
de serem vistas por pessoas razoáveis
Elas desejam ser olhadas por Lori
- que capta a profundidade potente nos seus olhares -
Giselda Gil
Valdete Gomes Fernandes Silva
Mulher carregada das tarefas
cotidianas e domésticas
modela
com a polpa dos dedos
e faz
acender do barro
mulheres
- como ela, imunes ao peso do mundo -
teluricamente belas,
hospedeiras,
andor(es) de amores.
Os vestidos
florescendo cerrados
impregnados de primaveras
a evidenciar
lições de afeto
e indícios de felicidade
nos resvalos
do existir.
Fulgorizações
do engendrar
na impostura cromática
das terras do Fanado
insólitas paisagens da alma.
Lori Figueiró
Eu gosto assim quando vem uma inspiração
e aí, no outro dia, a gente coloca em prática.
A gente deve di ir inovando sempre
o trabalho qui a gente faz,
isso é o que dá alegria.
E quando a gente sente qui uma pessoa
gosta da gente
e admira o qui a gente faz,
isso é motivo di incentivo.
Eu peço sempre qui o Espírito Santo
nos ilumina
e qui faça florescer nas nossas vida
os nossos trabalho, as nossas família.
A gente nesse mundo num é nada.
A gente é o bem qui a gente faz,
qui a gente deixa.
Valdete Gomes Fernandes Silva