Tudo vira arte
Cores, cores... Tecendo o algodão e pensando nas cores. Uma casinha aqui, outra casinha acolá! Casinha pequenina, janela, janelinha. Uma flor daqui, outra acolá, pra mode enfeitar. E ela lá a fiar, pra tudo juntar e coisas belas bordar. Pesquisas aqui e acolá, mas há vezes em que ao dormir as ideias brotam. Tem o ócio criativo? Tem, sim, sinhô! E tem a insônia criativa também, uai. A geometria, sempre presente, se inspira na cobra e vem em formato de colcha, pra mode cobrir nosso leito camuflado, como a cobra faz zanzando pela natureza... Cores da natureza, tudinho feito da mãe Terra. É cada coisa que não há como cansar de admirar! O mundo inspira, cada viagem inspira, cada casinha na estrada inspira as cores e flores. Lembranças marcantes ficam na mente da gente, né. Assim temos em mente o interior no nosso exterior, o interior em nossa arte, o interior aconchegante em cada sorriso de lembrança. Aconchego banhado por natureza. Árvores, flores, cores... Tudo vira arte nos bordados pra exportar o interior como território, mas principalmente nosso interior. O eu interior. Transformar em arte faz eternizar nossa lembrança. Lori faz poema com imagens e com as imagens faz cócegas no coração. Imagens repletas de histórias e memórias. Memórias nos trazem cores, flores e sabores.
Lívia Nogueira
Natalina Soares de Souza
Mulher sobrecarregada
das incumbências familiares
e do dia
a
forja
à luz do algodão
com gestos
de utilidade decente
e esperançosa beleza
num demasiado de cores
e texturas
de truncadas
e entrecortadas
linhas
bordados delicados
orgânicos
quase líquidos
- como uma narrativa que precisa ser forte
para enfrentar o peso da vida -
manchando de claridade terna
e exuberância esplendorosa
os territórios escalavrados
de Berilo
evidenciando eternidades.
Lori Figueiró
Quando eu tô fazendo os tingimento
qu'eu coloco as meada pra secá
eu vou lá e pego aquela cor
e coloco perto da outra
eu falo: quando eu for trabalhá no tear
essa cor aqui vai tá combinando com essa...
As meadas no varal
é elas que são a minha inspiração.
Quando eu estou viajando
qu'eu passo em cidade
que talvez é pela primeira vez
eu olho até as corres das casas
sempre tem um detalhe diferente
umas combinação...
Aí, eu fico imaginando
e quando eu volto
eu venho com aquilo na cabeça
pra fazê um novo trabalho.
A maior felicidade
é eu botá a mão na massa
sabendo qu'eu tô produzindo
uma coisa qu'eu mesma é que criei.
Natalina Soares de Souza