Dona Delfina Moreira Esteves veio caminhando devagar dos seus canteiros de hortaliças. Lá é o seu posto de trabalho, onde aos cento e seis anos de idade ainda pode sentir serventia e fazer presente na renda da família. A ausência das chuvas castiga a terra do Córrego das Imburanas, lá para as bandas de Jenipapo de Minas. Uma pausa para a conversa confortada no banco de madeira, um gole de café entre os dedos calosos e ressequidos. Os olhos resignados buscam segredos molhados na modéstia. Dona Delfina olha para o céu. Ela deseja conhecer um céu de outros azuis.
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“O senhor num é di crê, seu Lori,
Eu vivo quase qui no sempre
A ismiuçar um céu qui aproprie
Di um outro azul diferenciado.
Um azul di além du alcançar
Di olhos já ismurecidos di quantidade di tanto Natal
Num torrão de barro só.”
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Dona Delfina Moreira Esteves é uma das histórias retratadas por Lori Figueiró no livro “Mulheres do Vale: substantivo feminino”, um registro emocionante que revela, pelo olhar do fotógrafo, a beleza e a força de diversas mulheres do Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, numa pluralidade de facetas, de cores, de luzes, de sensações, de vidas.
Paula Pessoa, 06 de agosto de 2019
Delfina Moreira Esteves, Córrego das Imburanas, Jenipapo de Minas, março de 2015