Encontros com as forças da terra

Lori Figueiró

Andar pelas ruas. Conversar com uma ou outra pessoa. Observar.

O ofício do fotógrafo acontece em ações que vão além do ato de disparar o dispositivo. Sabemos que a sua máquina serve para captar imagens, mas o que seria dela sem o olhar por trás da lente? E é justamente esse olhar que nos leva para viver realidades outras. Conhecemos pessoas que estão tão longe, mas que, com aquela foto, se tornam próximas de nós. Adentramos suas casas, percebemos suas intimidades. Tudo isso em um clique.

Lori Figueiró é um fotógrafo que gosta de estar no meio do povo: sentindo, dialogando, observando. Essa busca por uma vivência corporal mais intensa é a base de seu ofício, mas o seu empenho não é somente pela captação de uma boa imagem. Por trás de cada fotografia está o desejo de que as pessoas se reconheçam em sua obra.

Por isso basta um dedo de prosa para confirmar que ele não é um fotógrafo de passagem. Lori nasceu e vive no Vale do Jequitinhonha, fazendo seus registros cotidianamente. Nas palavras do fotógrafo, suas imagens registram essencialmente “o povo do Jequitinhonha e as suas manifestações culturais e religiosas, a sua memória, a sua oralidade. Eu costumo dizer que só consigo fazer os registros que faço em decorrência de uma relação afetiva construída ao longo dos anos. Uma fotografia mais frontal, olho no olho”.

Nesse gesto de olhar de volta, vemos como as mulheres são figuras centrais em seus registros. São as forças da terra que movem o Vale. Por isso, em nossa exposição on-line, nós escolhemos visitá-las. Vamos adentrar as suas casas, conhecer seus saberes e fazeres, olhar com atenção para cada detalhe e pautar nossa percepção pelo olho no olho, algo que tanto agrada Lori. Só falta sentar para tomar aquele café enquanto escutamos suas histórias. Mas isso fica para a próxima.

Em um outro sentido, nossa exposição pretende trazer para as casas das pessoas um pouco dessa vivência do Vale em todas as suas cores e detalhes. Por meio delas, também conhecemos Lori e sua personalidade encantadora. Entendemos que não basta ter uma máquina para fazer boas fotos. É preciso ter o olhar. E isso Lori tem e não guarda só para ele. Lança ao mundo como sementes que buscam a terra para se aninhar e crescer.

Em suas palavras, “a fotografia possibilita uma espécie de memória social, a partir dos registros de momentos, locais e pessoas que deixaram de existir. Numa região em que a grande maioria das pessoas não tem uma fotografia dos seus antepassados, procuro captar imagens em que as pessoas registradas possam se reconhecer nelas e que os seus saberes e fazeres sejam passíveis de contemplações, possibilitando, quem sabe, a sua preservação e perpetuação”.

Seja bem-vindo ao Vale pelas imagens de Lori Figueiró! Impossível não se sentir de casa, não se reconhecer nessas mulheres, não aprender um pouquinho mais sobre a cultura popular que forma a base de nossa Minas Gerais.

Renata Oliveira Caetano, agosto de 2021

Anália da Conceição Rodrigues, São Gonçalo do Rio das Pedras, Serro, junho de 2010

(Anália da Conceição Rodrigues, São Gonçalo do Rio das Pedras, Serro, junho de 2010)